201- Capítulo XXVII - Itens 18 a 21 - Preces Pelos Mortos e Pelos Espíritos Sofredores
- paulinhocomunhao
- 17 de nov. de 2023
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Prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores
18. Os Espíritos sofredores reclamam preces e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem pense neles, sentem-se menos abandonados, menos infelizes. Mas a prece tem sobre eles uma ação mais direta: reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e pode desviar-lhes o pensamento do mal. É nesse sentido que a prece pode não apenas aliviar, como abreviar seus sofrimentos. (Veja-se O céu e o inferno, Segunda parte, Exemplos.)
19. Certas pessoas não admitem a prece pelos mortos, porque, segundo acreditam, a alma só tem duas alternativas: ser salva ou ser condenada às penas eternas, de modo que, num e noutro caso, a prece é inútil. Sem discutir o valor dessa crença, admitamos, por alguns instantes, a realidade das penas eternas e irremissíveis e que as nossas preces sejam impotentes para pôr-lhes um termo. Perguntamos se, nessa hipótese, será lógico, será caridoso, será cristão recusar a prece pelos condenados? Tais preces, por mais impotentes que fossem para os libertar, não lhes seriam uma demonstração de piedade capaz de abrandar-lhes os sofrimentos? Na Terra, quando um homem é condenado perpetuamente, mesmo quando não haja a mínima esperança de obter-se para ele o perdão, será proibido a uma pessoa caridosa ir carregar seus grilhões para aliviá-lo desse peso? Quando alguém é atacado de mal incurável, dever-se-á abandoná-lo sem lhe proporcionar alívio algum, só porque não há nenhuma esperança de cura para ele? Lembrai-vos de que, entre os condenados, pode acharse uma pessoa que vos foi cara, um amigo, talvez um pai, uma mãe ou um filho; pelo fato de esse ente não ser perdoado, segundo credes, recusar-lhe-íeis um copo de água para mitigar-lhe a sede? um bálsamo que lhe seque as chagas? Não faríeis por ele o que faríeis por um condenado? Não lhe daríeis uma prova de amor, uma consolação? Não, isso não seria cristão. Uma crença que petrifica o coração é incompatível com a crença em um Deus que põe na primeira categoria dos deveres o amor ao próximo.
A não eternidade das penas não implica a negação de uma penalidade temporária, porque Deus, em sua justiça, não pode confundir o bem e o mal. Ora, negar, neste caso, a eficácia da prece, seria negar a eficácia da consolação, dos encorajamentos e dos bons conselhos; seria negar a força que haurimos da assistência moral dos que nos querem bem.
20. Outros se fundam numa razão mais enganadora: a imutabilidade dos decretos divinos. Deus, dizem esses, não pode mudar as suas decisões a pedido das criaturas; sem isso, o mundo não teria estabilidade. O homem, pois, nada tem de pedir a Deus, só lhe cabendo submeter-se e adorá-lo.
Há nessa ideia uma falsa aplicação do princípio da imutabilidade da Lei divina, ou melhor, ignorância da Lei no que diz respeito à penalidade futura. Essa Lei é hoje revelada pelos Espíritos do Senhor, quando o homem já está maduro para compreender o que, em matéria de fé, é conforme ou contrário aos atributos divinos.
Segundo o dogma da eternidade absoluta das penas, não se levam em conta os remorsos, nem o arrependimento do culpado. Para ele, todo desejo de melhorar-se é inútil: está condenado a permanecer perpetuamente no mal. Se a sua condenação for por determinado tempo, a pena cessará quando o tempo tiver expirado. Mas quem poderá afirmar que ele então possua melhores sentimentos? Quem poderá dizer que, a exemplo de muitos condenados da Terra, ao sair da prisão ele não seja tão mau quanto antes? No primeiro caso, seria manter na dor do castigo um homem que retornou ao bem; no segundo, seria agraciar aquele que continua culpado. A Lei de Deus é mais previdente do que isso. Sempre justa, equitativa e misericordiosa, não estabelece nenhuma duração para a pena, seja ela qual for. Ela se resume assim:
21. “O homem sofre sempre a consequência de suas faltas; não há uma só infração à Lei de Deus que não acarrete a sua punição.
A severidade do castigo é proporcional à gravidade da falta.
A duração do castigo é indeterminada, seja qual for a falta; está subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno à senda do bem. A pena dura tanto quanto a obstinação no mal; seria perpétua se a obstinação fosse perpétua; dura pouco, se o arrependimento é imediato.
Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede esperança. Mas não basta o simples pesar do mal causado: é necessária a reparação. Por isso, o culpado é submetido a novas provas, nas quais sempre pode, por sua livre vontade, praticar o bem e reparar o mal que haja feito.
Assim, o homem é constantemente o árbitro da sua própria sorte; pode abreviar ou prolongar indefinidamente o seu suplício; a sua felicidade ou a sua desventura dependem da vontade que tenha de praticar o bem”.
Tal é a Lei, Lei imutável e conforme à bondade e à Justiça de Deus.
Desse modo, o Espírito culpado e infeliz pode sempre salvar-se a si mesmo: a Lei de Deus lhe diz em que condições pode fazê-lo. O que lhe falta na maioria das vezes é a vontade, a força, a coragem. Se, por nossas preces, lhe inspiramos essa vontade, se o amparamos e o encorajamos; se, pelos nossos conselhos, lhe damos as luzes que lhe faltam, em lugar de pedirmos a Deus que derrogue a sua Lei, tornamo-nos instrumentos para a execução de outra lei, também sua, a de amor e caridade, da qual Ele nos permite participar, dando a nós mesmos, com isso, uma prova de caridade. (Veja-se O céu e o inferno, Primeira parte, caps. IV, VII, VIII.)
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