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182- Capítulo XXIII - Itens 15 a 18

  • Foto do escritor: paulinhocomunhao
    paulinhocomunhao
  • 29 de out. de 2023
  • 4 min de leitura

(continuação)


15. Infelizmente, os adeptos da nova doutrina não se entenderam quanto à interpretação das palavras do Mestre, veladas, na maior parte das vezes, pela alegoria e pelas figuras da linguagem. Daí surgirem numerosas seitas desde o início, pretendendo todas a posse exclusiva da verdade e não tendo bastado dezoito séculos para pô-las de acordo. Esquecendo o mais importante dos preceitos divinos, aquele que Jesus colocou como pedra angular do seu edifício e como condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor ao próximo, aquelas seitas anatematizaram-se reciprocamente, arremeteram-se umas contra as outras, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em sangue, aniquilando-as nas torturas e nas chamas das fogueiras. Os cristãos, vencedores do paganismo, de perseguidos que eram, fizeram-se perseguidores. Foi com ferro e fogo que plantaram a cruz do Cordeiro sem mácula nos dois mundos. É fato constatado que as guerras de religião foram mais cruéis e fizeram mais vítimas do que as guerras políticas, e que em nenhuma outra guerra se praticaram tantos atos de atrocidade e de barbárie.


Cabe a culpa à doutrina do Cristo? Não, decerto, pois ela condena formalmente toda violência. Disse Ele alguma vez a seus discípulos: Ide, matai, massacrai, queimai os que não crerem como vós? Não; o que, ao contrário, lhes disse, foi: “Todos os homens são irmãos e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos persigam”. Disse-lhes também: “Quem matar com a espada perecerá pela espada”. A responsabilidade, portanto, não cabe à doutrina de Jesus, mas aos que a interpretaram falsamente e a transformaram num instrumento a serviço de suas paixões; cabe aos que desprezaram estas palavras: “Meu Reino não é deste mundo”.


Em sua profunda sabedoria, Jesus previa o que ia acontecer, mas essas coisas eram inevitáveis, porque decorriam da própria inferioridade da natureza humana, que não podia transformar-se repentinamente. Era preciso que o Cristianismo passasse por essa longa e cruel prova de dezoito séculos, para mostrar toda a sua força, porque, apesar de todo o mal cometido em seu nome, Ele saiu dela puro. Jamais esteve em causa. As censuras sempre recaíram sobre aqueles que abusaram dele. A cada ato de intolerância, sempre se disse: se o Cristianismo fosse mais bem compreendido e mais bem praticado, isso não teria acontecido.


16. Quando Jesus diz: “Não creiais que Eu tenha vindo trazer a paz, mas sim a divisão”, seu pensamento era este:


“Não creiais que a minha doutrina se estabeleça pacificamente; ela trará lutas sangrentas, tendo por pretexto o meu nome, porque os homens não me terão compreendido, ou não terão querido compreender-me. Os irmãos, separados por suas respectivas crenças, desembainharão a espada um contra o outro e a divisão reinará no seio de uma mesma família, cujos membros não partilhem da mesma crença. Vim lançar fogo à Terra para livrá-la dos erros e dos preconceitos, do mesmo modo que se põe fogo a um campo para destruir nele as ervas más, e tenho pressa de que o fogo se acenda para que a depuração seja mais rápida, visto que do conflito a verdade sairá triunfante. À guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida. Então, quando o campo estiver preparado, Eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, isto é, que dando a conhecer o sentido verdadeiro das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender, porá fim à luta fratricida que divide os filhos do mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem resultado, que traz consigo unicamente a desolação e a perturbação até o seio das famílias, os homens reconhecerão onde estão os seus verdadeiros interesses, com relação a este mundo e ao outro. Verão de que lado estão os amigos e os inimigos da tranquilidade deles. Todos então se abrigarão sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, de acordo com a verdade e os princípios que vos tenho ensinado”.


17. O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele se defronta com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições. Também ele, portanto, tem de combater, mas o tempo das lutas e das perseguições sanguinolentas já passou; são todas de ordem moral as que terá de sofrer, e o fim de todas elas se aproxima. As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de um único foco, jorra sobre todos os pontos do globo e abrirá mais depressa os olhos aos cegos.


18. Essas palavras de Jesus devem, pois, entender-se com referência às cóleras que Ele previa que a sua doutrina suscitaria, aos conflitos momentâneos a que ia dar causa, às lutas que teria de sustentar antes de se estabelecer, como aconteceu aos hebreus antes de entrarem na Terra Prometida, e não como decorrentes de um desígnio premeditado de sua parte de semear a desordem e a confusão. O mal viria dos homens e não dele, que era como o médico que se apresenta para curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, removendo os maus humores do doente.








 
 
 

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