136- Capítulo XVI - Item 8 - Desigualdade das Riquezas
- paulinhocomunhao
- 13 de set. de 2023
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Desigualdade das riquezas
8. A desigualdade das riquezas é um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que nem todos os homens são igualmente ricos? Não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. É, aliás, ponto matematicamente demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, daria a cada um parcela mínima e insuficiente; que, supondo-se efetuada essa divisão, o equilíbrio estaria desfeito em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da Humanidade; que, admitindo que ela desse a cada um o necessário, já não haveria o aguilhão que impele os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.
Admitido isso, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Ainda aí está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando ao homem o livrearbítrio, quis Deus que ele chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do mal e que a prática do bem resultasse de seus esforços e da sua vontade. O homem não deve ser conduzido fatalmente ao bem nem ao mal, sem o que não passaria de instrumento passivo e irresponsável, como os animais. A riqueza é um meio de o experimentar moralmente, mas como é, ao mesmo tempo, poderoso meio de ação para o progresso, Deus não quer que ela permaneça longo tempo improdutiva, razão pela qual Ele incessantemente a desloca. Cada um tem de possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela. Como, porém, é materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo tempo e, além disso, que se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, comprometendo assim o melhoramento do globo, cada um a possui por sua vez. Quem não a tem hoje, já a teve ou terá noutra existência; quem a tem agora, talvez não a tenha amanhã. Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, cada um deve trabalhar por sua vez. Para uns, a pobreza é a prova da paciência e da resignação; para outros, a riqueza é a prova da caridade e da abnegação.
É de lamentar-se, e com razão, o péssimo hábito que algumas pessoas fazem de suas riquezas, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, perguntando-se se Deus será justo, dando riqueza a tais criaturas. É certo que, se o homem só tivesse uma única existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens da Terra; se, entretanto, em vez de levarmos em conta apenas a vida atual, considerarmos o conjunto das existências, veremos que tudo se equilibra com justiça. O pobre não tem, assim, motivo algum para acusar a Providência nem para invejar os ricos, como estes não têm razão para se vangloriar do que possuem. Se abusam, não será com decretos ou leis suntuárias que se remediará o mal. As leis podem mudar momentaneamente o exterior, mas não conseguem mudar o coração. É por isso que têm duração temporária e são quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A fonte do mal reside no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda ordem cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.
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